Portadores de Necessidades Especiais ( PNE’s) e o Mercado de Trabalho Brasileiro

RESUMO

O  trabalho discute questões relativas a diversidade e diferenças individuais na educação inclusiva e dificuldades existentes na inclusão de portadores de necessidades especiais- PNE’s; no mercado de trabalho brasileiro. O estudo deste  trabalho foi procurar identificar os principais elementos que dificultam a inserção dos PNE’s no mercado de trabalho brasileiro, apesar da existência de amparo legislativo; e levantar discussões a respeito do assunto. Dificuldades principais evidenciadas no trabalho foram : a) dificuldades encontradas na inadequação do ambiente físico e social; b) falta de conhecimento sobre deficiência por parte de gestores e pessoas em geral; c) programas de treinamento profissional ausentes no contexto social ou realizados de forma não muito eficaz e eficiente; d) gestores não engajados na causa dos PNE’s; e) dificuldades encontradas pelos PNE’s em relação a si mesmos e em relação ao meio social e f) ausência de aplicabilidade funcional e real das leis de amparo do PNE por parte dos gestores .

Palavras-chave: PNE, Responsabilidade Social , Pessoa com Deficiência.

SUMÁRIO

  Página
INTRODUÇÃO 10
CAPÍTULO I_ CONCEITO DE PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS 14
CAPÍTULO II_ AMPARO AO PORTADOR DE NECESSIDADE ESPECIAL- PNE 22
CAPÍTULO III_ EDUCAÇÃO E TRABALHO 36
CONSIDERAÇÕES FINAIS 44
REFERÊNCIAS 46

INTRODUÇÃO

Este trabalho, foi em grande parte inspirado na observação do autor  e na inquieta busca por respostas que justificassem a grande dificuldade de inserção das pessoas portadores de necessidades especiais  – PNE’s – em ambientes educacionais e, em especial , no mercado de trabalho brasileiro. Através desta pesquisa, o autor declara que a população brasileira (onde das 16 milhões de pessoas portadoras de deficiência, apenas 2% destes trabalham no mercado formal. Contraste com outros países avançados onde esta taxa sobe para 30% a 40%), vem paulatinamente desempenhando programas para fortalecimento de uma consciência mais humana e prática, com poucos ares retóricos , a respeito de inclusão social mais íntegra do PNE ou PPD ( Pessoa Portadora de Deficiência ) ; ou seja , atitudes sociais  e empresariais mais direcionadas para a quebra de paradigmas , contribuindo para a possibilidade de melhores relacionamentos interpessoais. O contato real com a população de PNE, é de suma importância para a existência de uma maior tolerância; que sirva de subsídios para uma efetiva diversidade social. Entretanto, os programas de inclusão social do PNE ainda ocorrem com ações muito sutis, apesar da existência do Decreto Lei nº 3.298, de 20 de Dezembro de 1999, que regulamenta a Lei nº 7853, de 24 de Outubro de 1989, onde dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. E tais atitudes, que acabam por possuir caráter meramente voluntário, ocorrem em programas focados em caminhos diferentes e distantes da demanda do mercado de trabalho. Este retrato social é um aspecto ímpar que dificulta em demasia a inserção do PNE ao mercado de trabalho brasileiro.

Segundo Perosa ( 1979), Manzini ( 1989), Goyos ( 1995 ), Tanaka ( 1996 ), Nunes et al ( 1998 ) apud   Manzini e Tanaka ( 2005 ); existem falhas no processo de formação e qualificação profissional dos PNE’s no Brasil, de acordo com literatura científica. Esta formação tem com certa freqüência , ocorrido por intermédio de programas desenvolvidos por oficinas pedagógicas ou protegidas de instituições de ensino especial. Entretanto, existem críticas em relação aos procedimentos que estes programas utilizam, por considerarem que as atividades comumente ensinadas, como artesanato, tapeçaria e marcenaria,  são selecionadas mais em função dos recursos materiais disponíveis e da tradição institucional do que da demanda do mercado , pouco contribuindo para efetivamente qualificar essa população.

Ações mais corretivas e punitivas nem sempre ocorrem com demasiada freqüência pelo governo brasileiro com o objetivo de fazer valer as leis existentes de amparo ao PNE; o que acaba por contribuir para a proliferação de atitudes discriminatórias, mesmo que de maneira muito velada. Viver no Brasil, ou melhor, em qualquer parte do mundo, enquanto PNE; é ser rotulado ou tornar-se portador de um “ código de barras “ onde palavras como “ incapaz “ e “ incompleta “ são evidenciadas a todo momento. Compreender a existência da carência  de acesso do PNE a atividades realizadas por pessoas consideradas “ perfeitas “, é lançar um olhar mais responsável  e humano; concluindo que é necessário para o PNE cultivar relações interpessoais.  Pois, como ser humano que é, precisa de referências para a autodefinição do indivíduo diante do meio social. Excluí-lo desta condição humana, é privá-lo da oportunidade de identificação social e, mais grave ainda; é enquadrá-lo numa condição de marginalidade e dispensabilidade.

De acordo com Omote ( 2006 ), as diferenças entre os indivíduos distribuem-se na população de forma muito complexa, pois além daquelas que podem ser identificadas em cada indivíduo específicos, mas não há como não perceber diferenças grupais devidas à raça, gênero, idade, cultura e até mesmo condições físico-geográficas do ambiente imediato. Então, cada indivíduo se apresenta como uma combinação de uma miríade de trações individuais e de diferentes grupos aos quais pertence. Essa diversidade deve ser preservada e respeitada e; recusar o acesso aos PNE’s à participação social é desvalorizar valores que caracterizam a própria sociedade como possuidora de uma diversidade cultural e social onde as diferenças individuais são retratos significativos de uma unidade maior. Inúmeros são as pessoas marginalizadas injustamente devido a problemas físicos ou mentais, todas elas detentoras de seus direitos fundamentais como seres humanos que são.

De acordo com Silva  ( 1987 ), quando se trata de assuntos referentes a exclusão social, há no fundo um sentimento velado de rejeição contra tudo o que é diferente, que é “ defeituoso “ e que causa mau estar. Utiliza-se de rejeição, afastando o PNE do convívio social. Pode-se concluir que esta vertente deve ser  estudada, pois estaria aí  a origem para o impedimento ao desenvolvimento do PNE como cidadão; apesar da legislação existente  com intuito de ampará-lo ?  Perspectiva  que dificulta a própria gestão desta população; pois muitas das vezes, os gestores não encontram-se preparados para receberem os PNE’s em suas organizações.

Refletindo sobre quais elementos poderiam estar contribuindo para discriminação dos indivíduos portadores de necessidades especiais e seu papel na sociedade mercadológica; este trabalho pretende trazer elementos para uma discussão teórica e metodológica a respeito organizacional no qual o PNE está inserido. E para este fim, o presente estudo trata especificamente de alguns tipos de deficiências físicas/sensoriais; como por exemplo, desvios motores ( amputações, malformações motoras congênitas ou adquiridas, problemas ortopédicos de gravidade e provocadores de seqüelas incapacitantes ) e desvios sensoriais ( cegos ou deficientes visuais, surdos ou deficientes auditivos , com diminuída ou gradativa perda de sentido da audição).

Na tentativa de uma análise mais cuidadosa, este estudo no primeiro capítulo preocupa-se em apresentar a  definição para termos utilizados para designar a deficiência de um indivíduo. O emprego correto para vocábulos como, deficiência, incapacidade, PNE ou PPD, normalidade, entre outros. O objetivo deste capítulo é apresentar ao leitor, subsídios necessários para uma compreensão menos fantasiosa a respeito da realidade do PNE; onde no significado real dos termos ; pode-se perceber  que muitas das vezes, é convidado a entender de forma errônea determinados cenários, contribuindo para a discriminação e ausência de respeito.

A gestão da diversidade nas empresas, onde os programas de desenvolvimento organizacional parecem não abraçar peculiaridades encontradas em seus colaboradores, não contribuindo para o crescimento social de minorias, ressalta a estagnação e despreparo dos gestores diante do assunto; levando o PNE a desistir do mercado de trabalho. As razões que proporcionam sua saída podem ser principalmente relacionadas a baixa auto-estima.

O  segundo capítulo  , preocupa-se em verificar a realidade do PNE no mercado de trabalho brasileiro, ou seja,  de que forma estão sendo recebidos pelas instituições de trabalho formal e como estas instituições estão comportando-se no intuito de proporcionar um ambiente mais confortável e seguro para a população de PNE. Pretende evidenciar as reais dificuldades encontradas pelos PNE’s em relação ao trabalho e a si mesmos.

Por fim, o terceiro capítulo aborda soluções propostas por organizações brasileiras de amparo ao PNE ( sejam governamentais ou não )  e a metodologia de ensino das instituições de ensino especial.

Um dos objetivos propulsores deste estudo, se não o norteador; é demonstrar ao leitor e gestores em geral que julgar as pessoas por suas deficiências enquadrando-as em classe de estagnação e imprestabilidade , é um grande erro. Erro que pode ser revertido em boas práticas de desenvolvimento pessoal. E que desta forma, pode-se praticar um ato social proporcionando a sociedade melhores profissionais capazes de competir com qualquer pessoa na busca de melhores condições de vida. Faz-se necessário dar oportunidades de desenvolvimento ao PNE; pois desta  forma todos saem ganhando : a sociedade, o gestor, o indivíduo PNE e a organização que o recebe adequadamente. O gestor de uma organização, ou mesmo apenas setorial, deve perceber que foco em treinamento somente, não contribui para o desenvolvimento organizacional, individual e social.

A metodologia de pesquisa utilizada está fundamentada em pesquisa bibliográfica de artigos relacionados aos temas: deficiência física, educação especial, gestão do conhecimento, gestão de pessoas, extraídos de revista eletrônica brasileira ( SCIELO-BRASIL ), e de artigos de instituições de pesquisa disponibilizados para acesso on-line. Estudo da obra muito bem vinda de Otto Marques da Silva, intitulada A Epopéia Ignorada    ( 1987 ) que aborda questões de relevância expoente nos tempos atuais; e demais obras literárias , incluindo internacionais. A Declaração de Salamanca ( UNESCO,1994 ) , a Constituição da República Federativa do Brasil ( Decreto Lei nº 3.298, de 20 de Dezembro de 1999 ) e outros documentos do Ministério da Educação – Secretaria de Educação Especial Brasileira;   ilustram o presente estudo e demonstram preocupação internacional e nacional sobre o tema.

A pesquisa bibliográfica sobre o presente tema: “ Portadores de Necessidades Especiais e o Mercado de Trabalho Brasileiro” procura recuperar os principais  comentários e questões a respeito dos principais autores e órgãos que encontram-se envolvidos com esta realidade; seja em âmbito apenas educacional e/ou governamental.

CAPÍTULO I -CONCEITO DE PORTADORES DE NECESSIDADES    ESPECIAIS .

Indubitavelmente , em algum lugar do planeta, uma criança está nascendo com uma deficiência. Talvez a cegueira, que tornará a grandeza de um oceano azul num mistério por toda uma vida. Ou talvez, a surdez, tornando muito difícil o conhecimento do barulho de pássaros cantando ou a maravilha de uma linda sinfonia. Talvez a paralisia cerebral negará a esta criança a experiência de correr contra o vento ou tornar-se um atleta. Pode haver uma lesão no cérebro, o que terá um efeito sutil e disfarçado  sobre o comportamento e o aprendizado futuros, ou ocasionará um irreparável retardamento mental. Porém, problemas de nascimento não são os únicos responsáveis pelas deficiências. Neste momento, também uma criança ou adulto está sendo vítima de um acidente, seja no trânsito, ou até mesmo escorregando no banheiro. Ou sendo atingido na cabeça por uma bola ao brincar com amigos; ou talvez, sendo vítima de alguma doença causadora de algum tipo de deficiência.

Como pode-se notar, ninguém está livre de uma possível deficiência irreparável ou não. Sendo ricas ou pobres, cultas ou sem nenhuma instrução, negros ou brancos, homens ou mulheres, felizes ou infelizes, boas ou más. Existe apenas algo em comum em todas elas: ter que conviver com uma nova realidade que as modificarão fisicamente e/ou psicologicamente por toda a vida. Ajustar-se a esta realidade, provavelmente exigirá uma forte mudança em seu estilo de vida, como um todo. Alcançar seus objetos pessoais poderá exigir maiores esforços e limitações.

Uma deficiência não é algo desejável, e não há razões para se pensar no contrário. Na maioria das vezes, causará demasiado sofrimento, desconforto, embaraço, lágrimas, confusão, olhares mais atentos do grupo e muito tempo e dinheiro. E, no entanto, a cada momento que passa, indivíduos nascem deficientes ou adquirem esta condição ( BISCAGLIA,2006).

Provavelmente, pode-se não dar conta, mas o indivíduo que nasce com uma deficiência do adulto que sofre um acidente que o incapacita serão limitados menos pela sua  deficiência, mas sim pela atitude da sociedade em relação àquela. É a sociedade , na maior parte das vezes, que definirá a deficiência como uma incapacidade, e é o indivíduo que sofrerá as conseqüências de tal definição ( BUSCAGLIA, 2006 ).

De acordo com Dr. Sol Gordon ( 1974 ) apud Buscaglia ( 2006 ), quem cria os incapazes é a sociedade. Enquanto a maior parte das deficiências é produto do nascimento e de acidentes, o impacto debilitante da vida das pessoas freqüentemente não é resultado tanto da “ deficiência “ quanto da forma como os outros definem ou tratam o indivíduo. Milhares de pessoas são encarceradas em instituições de custódia; mesmo aqueles afortunados o bastante para receber serviços na comunidade em geral, encontram-se em ambientes segregadores e conseqüentemente estigmatizantes; tais como : associações de apoio e escolas especiais. Estes meios esteriotipados de servir as pessoas com necessidades especiais, através da institucionalização e do isolamento, refletem o princípio de que os indivíduos com deficiências não têm interesses ou habilidades para interagir com a sociedade mais ampla.

Este capítulo propõe-se a esclarecer termos e expressões utilizadas comumente para referir-se às pessoas portadoras de necessidades especiais ou pessoas portadoras de deficiência, como também são definidas. Geralmente são mal definidas por grande parte da população, que desinformada e despreocupada em entender  em profundidade a realidade desta população, finda em utilizar expressões de caráter ofensivo e desumano.

A preocupação em se definir corretamente determinados termos e expressões, é o objetivo norteador deste capítulo, no intuito de apresentar subsídios que contribuem com a quebra de conclusões preconceituosas e distorcidas a respeito das pessoas portadoras de deficiência. Conclusões que geralmente, levam estes indivíduos a serem enquadrados em um grupo marginalizado e condenado a viver na sombra da sociedade.

Pessoa portadora de deficiência é aquela que sofreu perda ou possua anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que venha  gerar uma incapacidade para o desempenho de atividade dentro do padrão considerado normal para o homem, podendo a gênese estar associada a uma deficiência física, auditiva, visual, mental; quer permanente , quer temporária ( SILVA, 1986 ).

As pessoas portadoras de deficiência, são dotadas de algum tipo de deficiência de uma estrutura ou função psicológica ou anatômica que gere incapacidade para desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano ( BRASIL. Decreto-Lei nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999).  Ainda neste decreto-lei , encontra-se a definição para deficiência permanente, como sendo aquela que ocorre ou se estabilizou durante um período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade de que se altere, apesar de novos tratamentos. E, por fim, conceitua-se incapacidade como uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração social, com necessidade de equipamentos, adaptáveis, meios ou recursos especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir informações necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser exercida.

De acordo com o art. 4º deste decreto-lei, encontram-se cinco categorias que determinam as patologias consideradas deficiências. Seguindo sua transcrição na íntegra, tem-se:

I- Deficiência física- alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida , exceto as deformidades estéticas e as que não produzem dificuldades para o desempenho de funções ( Redação dada pelo Decreto nº 5.296, de 2004 );

II- Deficiência auditiva- perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis ( dB ) ou mais; aferida por audiograma nas frequências de 500 HZ; 1.000 HZ; 2.000 HZ e 3.000 HZ ( Redação dada pelo Decreto nº 5.296, de 2004 );

III- Deficiência visual- cegueira, na qual a acuidade é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a  melhor correção óptica; a baixa visão que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60º; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores ( Redação dada pelo Decreto n º 5,296, de 2004 );

IV- Deficiência mental- funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestações antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas , tais como : a) comunicação; b) cuidado pessoal; c)habilidades sociais; d) utilização dos recursos da comunidade ( Redação dada pelo Decreto n º 5.296, de 2004 ); e) saúde e segurança; f) habilidades acadêmicas; g) de lazer; e h) trabalho;

V- Deficiência múltipla- associação de duas ou mais deficiências.

Vale lembrar, que de acordo com Buscaglia ( 2006 ), os deficientes são indivíduos próprios. Eles não pertencem à família, aos médicas e à sociedade, ou seja, não são “ propriedades “ de ninguém. Cada um é diferente um do outro e que, independente do rótulo que lhe seja imposto para a conveniência de outras pessoas, ele ainda assim é uma pessoa “ única “. Não existem duas crianças deficientes que sejam iguais ou dois adultos surdos que respondam e reajam da mesma forma.

Os deficientes são pessoas  antes de tudo e que têm o mesmo direito à auto-realização que quaisquer  outras pessoas; cada um obedecendo ao seu ritmo, à sua maneira e por seus próprios meios. Somente eles podem superar suas dificuldades e encontrar a si mesmos. Possuem a mesma necessidade de amar e serem amados, de aprender, compartilhar, crescer e experimentar no mesmo mundo que todas as outras pessoas. Faz-se necessário dar a oportunidade de poderem vivenciar suas próprias experiências. Existe apenas um mundo e não há porque privá-los de perceber o mundo. Ter este tipo de comportamento é , no mínimo, enjaulá-los em  “ gaiolas de ouro “.

Há uma história espanhola muito interessante quanto aos padrões que são criados e recriados pela sociedade, no que diz respeito à impressão visual, padrão estético. É citada por Buscaglia ( 2006 ), em seu livro “ Os Deficientes e Seus Pais”; e vale lembrá-lo neste momento, a título de relevante ilustração : em um dado momento, houve uma terra onde os habitantes, um a um, descobrem que estão desenvolvendo caudas! Para seu horror, os primeiros a produzirem tal apêndice, semelhante aos dos macacos, fazem o que podem para escondê-lo. Desajeitadamente enfiam suas caudas em calças e camisas largas a fim de ocultar sua estranheza. Mas ao descobrirem que todos estão desenvolvendo caudas, a história muda de modo drástico. Na verdade, a cauda revela-se de grande utilidade para carregar coisas, para dar maior mobilidade, para abrir portas quando os braços estiverem ocupados. Estilistas de moda começam a criar roupas para acomodar , na verdade, acentuar e liberar as recém-formadas caudas. Logo, começam-se a usar adornos para chamar a atenção a esta novidade. Então, de repente, aqueles que não desenvolveram caudas são vistos como esquisitos, e começam freneticamente a procurar formas de esconder tal fato, comprando caudas postiças ou retirando-se completamente da sociedade “ de cauda “. Que absurdo não ter cauda  !

Em nossa cultura, pode-se encontrar com muita freqüência, vários exemplos de tal atitude. Aquilo que é classificado como normal ou belo, está sempre sendo definido e redefinido. Em determinada época, o padrão de beleza era completamente diferente do padrão de beleza atualmente; e mesmo assim, pode-se encontrar diferentes padrões de beleza entre as culturas de todo o mundo. Os padrões de beleza , assim como os padrões de perfeição física, podem diferir não somente de uma mesma sociedade, mas entre as várias sociedades.

De acordo com Buscaglia ( 2006 ), nas culturas ocidentais, orelhas grandes e longas serão convenientemente ocultas sob cortes de cabelos bem-feitos. Em várias culturas africanas e polinésias, as orelhas são muitas vezes puxadas de formas torturantes para, deliberadamente, alongarem-se e, assim, tornarem-se atraentes e mais desejáveis aos indivíduos da comunidades. Esticam-se lábios, apertam-se pés, achatam-se narizes e fazem-se ajustes para satisfazer aos desejos da sociedade.

O modo de como os indivíduos definem a beleza física ou a anormalidade será determinado em grande parte  pelo que suas culturas ensinaram-lhe sobre perfeição e beleza. Assim, precondicionados a padrões de perfeição física desde a infância, muito antes que possam decidir por si mesmos e criar próprios padrões individuais ( BUSCAGLIA, 2006 ).

Com freqüência, ao crescermos, nossos critérios pessoais para a perfeição modificam-se e podem se tornar opostos da cultura. A influência da sociedade sobre as expectativas em relação ao físico e à beleza pode ser observada no comportamento de crianças, que parecem não ser influenciadas , em tenra idade, pelos padrões culturais de beleza física e normalidade. Possuem atitudes livres e sem preconceitos e brincam com outras crianças com marcas de varíola, deficiência física ou jovem atleta. Porém, posteriormente, depois que aprendem e incorporam os padrões culturais de perfeição e beleza, tomam atitudes de zombaria e deboche quanto aos olhos vesgos, pé torto, gagueira ou outro tipo de limitação evidente.

De acordo com Silva ( 1986 ), é evidente que existe a sociedade, a comunidade, os círculos de vizinhança ou de amizade, o grupo de referência familiar, têm uma reconhecida influência no eventual agravamento da situação. Ou seja, na transformação daquilo que é “ impedimento “ físico, sensorial , orgânico ou mental numa “ deficiência “. E isto ocorre devido a atitudes , receios , estigmas, comportamentos, preconceitos e também à discriminação , que são mantidos conscientes ou inconscientemente para com as pessoas que apresentam essas limitações. As dificuldades que cada um de nós individualmente criar para a sua educação, participação na vida social ou colocação em empregos, adicionais que sempre são às fronteiras de acesso a edifícios, ao transporte, aos recursos relacionados à recreação e ao lazer, geram problemas que tornam sua solução cada vez mais difícil.

Preconceitos e medidas discriminatórias existem concretamente contra quase todos os tipos de anormalidades ou de anomalias, muito embora essas atitudes apresentem tonalidades de ênfase diferente, pois “ a maioria das pessoas não tem contra os deficientes a mesma espécie de preconceitos, que alimenta contra certos grupos religiosos, raciais ou desfavorecidos ( TELFORD apud  SILVA, 1986 ).

Tudo aquilo que é muito diferente, que não é igual ao costumeiro, que foge à  normalidade, que é raro, chama a atenção. Atrai um olhar mais crítico por parte das pessoas. A diferença e a “ excepcionalidade “ podem existir tanto para melhor quanto para pior. Quando ocorrem para o lado positivo, como nos casos de beleza excepcional, da forma física perfeita, da inteligência fora do comum; elas causam deleite àqueles que com elas se defrontam ( SILVA, 1986 ). Porém, nota-se que há exceções que levam as pessoas a agirem de forma negativa e são essas as que mais causam dificuldades.

Provavelmente algum estudioso encontrará muitas dificuldades em afirmar com segurança o que realmente é “ normal “ num ser humano, em dada realidade, seja em termos de desenvolvimento pessoal, seja em termos de comportamento. Ninguém sabe, na verdade, até que ponto uma diferença dos padrões da aceita “ normalidade” poderá ser assimilada sem maiores dificuldades pela sociedade onde ocorre. O único ponto de conhecimento generalizado é que a maioria das pessoas sabe que existe um limite indefinido para as diferenças do “ normal” serem assimiladas pelo grupo social. De acordo com cada realidade social e cada cultura podem ocorrer claras delineações quanto aos desvios da normalidade que são ou não aceitáveis que podem até ser considerados como vantajosos, dependendo sempre dos resultados práticos provocados pela “anormalidade “ e do papel que os indivíduos afetados possam ter na sociedade ( SILVA, 1986 ).

O mundo inteiro está repleto de exemplos que ilustram situações que fogem aos padrões normais existentes, mas as características próprias dos tipos de preconceitos e das diversas formas de discriminação a elas relacionadas dependem diretamente dos padrões culturais de cada povo. De povo para povo , possuem bastante significado variável e somente podem ser compreendidas no contexto social onde ocorrem.

Sempre se encontrarão diferenças individuais que caracterizam cada um dos seres humanos. Embora seja muito importante a compreensão exata das implicações da “ normalidade “, a sociedade em geral confunde aquilo que é “ normal “ com aquilo que é “ comum “. De uma forma muito prática, pode-se dizer que “ comum “ é aquilo que encontrado com muita facilidade, enquanto que “ normal “ é o desejável. É comum a subnutrição, a ausência de recursos para ensino ou saúde. São situações comuns, mas não são normais, aceitáveis, dignas do homem. No entanto, essas situações anômalas são tantas vezes tomadas como naturais, corriqueiras, banais; que ficam sendo consideradas como normais, porém não há normalidade nisto.

De acordo com Silva ( 1986 ), o ser humano que é vítima de um certo impedimento de ordem física, por exemplo, temos a instalação de uma deficiência. Essa deficiência poderá levar ou não à uma incapacidade, ou seja, a uma situação de desvantagem, de inferioridade. É evidente que sempre poderá causar uma deficiência pouco significativa e sem maiores conseqüências para o indivíduo afetado. Temos o caso de um auxiliar de caminhão que pode perder o dedo mínimo da mão esquerda, provavelmente não sentirá problemas maiores que um datilógrafo, para um clarinetista profissional ou até mesmo, um pianista. O que acontece é que quando essa deficiência é tomada como uma desvantagem significativa para com os demais, ou quando ela é rejeitada sem que o indivíduo atente para suas conseqüências práticas, em geral a pessoa portadora da deficiência começa a agir e a desenvolver hábitos e atitudes tais, que o grupo social se vê forçado a deixá-lo de lado e cada vez mais à sua margem.

O mais importante a ser respeitado, é que a personalidade de uma pessoa deficiente não é a mesma antes e depois da deficiência surgir em sua vida ; no caso desta surgir proveniente de algum acontecimento oriundo de um acidente ou doença. O portador de deficiência necessita de colaboração social para que sua deficiência atinja ao grau melhor possível de integração na sociedade, sendo assim, a sociedade deve estar preparada para ajudá-lo a compreender-se melhor e a entender sua nova visão de vida, com a existência das limitações impostas pela deficiência. O processo de integração não acontece de repente, nem muito menos com o portador de deficiência de um lado e a sociedade de outro. É preciso integração. O processo de integração que a pessoa marginalizada por uma deficiência vive , jamais poderá ser estacionário; pois move-se em continuidade numa direção ou em outra: seja na direção de uma boa integração , seja na direção da segregação e do isolamento cada vez maiores.

Todas as pessoas portadoras de deficiência têm o direito à honestidade em relação a si mesmas, ao meio e à sua condição. A honestidade constitui a única base sólida sobre a qual qualquer tipo de crescimento pode ocorrer. Eles necessitam do que há de melhor nas pessoas ( BUSCAGLIA, 2006 ).

CAPÍTULO II - O AMPARO AO PORTADOR DE NECESSIDADE ESPECIAL- PNE

Segundo Silva ( 1986 ), na assistência à pessoa portadora de necessidades especiais, através dos tempos, podemos reconhecer os diversos métodos de trabalho, os objetivos dos programas estabelecidos e os procedimentos adotados para levá-la a sair da situação de dependência.

O processo de reabilitação , conforme hoje é concebido, reconhece um método apenas , um único objetivo e apenas um tipo de procedimento que são aceitáveis. O método precisa ser devidamente centrado na pessoa portadora de deficiência e com isso garantir seu tratamento como um todo e nunca em partes separadas. O objetivo do processo reabilitacional  é respeitado universalmente  e não apenas em nosso meio , é o de prover meios para que o indivíduo satisfaça suas necessidades, enquanto que o procedimento reconhecido adota o tratamento global do homem deficiente.

Para que esses pontos fundamentais possam chegar a ser concretizáveis num centro de reabilitação e para que, como resultado prático , a pessoa portadora de deficiência possa se sentir beneficiada, é básico que exista e que de fato ocorra a reunião de vários especialistas , cada um responsável de suas habilidades de caráter profissional, para formar o que todos conhecem como “ equipe de reabilitação “.

O trabalho em equipe tem se tornado cada vez mais importante e recomendado. Ouve-se falar desse tipo de atividade em atuação em atividades do cenário industrial, nas ciências, nos esforços comunitários, na medicina, na educação, nos esportes, na reabilitação e em quase toda atuação na qual as pessoas trabalham juntas para atingir objetivos comuns.

O trabalho em equipe, na acepção correta do termo, põem, supões um modo especial de trabalhar em conjunto, com indispensável integração de todos os que compõem o grupo. Especialistas podem ser agrupados e podem encontrar-se para trabalhar juntos ou em colaboração com outros, sem que essa atuação resulte num típico trabalho de equipe. Há de se ressaltar, que em certos tipos de atividades a atuação em equipe é tão fundamental que sua inexistência acaba provocando seu mais contundente fracasso. Uma dessas atividades é a reabilitação, que somente tornou-se viável após o estabelecimento de uma atuação conjunta de ciências diversas, com a participação de profissionais pré-determinados que conseguem operacionalizar um programa de atividades indispensável ao desenvolvimento do ser humano que é portador de uma deficiência física, sensorial, orgânica ou mental.

A qualidade de sua atuação e os seus resultados, segundo Silva ( 1986 ), dependem muito da maneira como o trabalho de equipe é desenvolvido, e esse trabalho só funcionará se cada um dos profissionais reconhecer o entrelaçamento existente entre seu campo de atuação e os das outras profissões, assumindo todas as conseqüências dessa posição. Em reabilitação das pessoas portadores de necessidades especiais, não existe simplesmente  um tratamento físico , ou apenas um trabalho que leve ao ajustamento psicossocial , uma vez que, definição mesmo, o tratamento deverá ser sempre “ global “, somando os esforços dos diversos profissionais. É de suma importância notar que um trabalho em equipe, no campo da reabilitação, bem coordenado e bem dosado , evita duplicações de esforços, conflitos de objetivos e a eventual omissão de um determinado tipo de atendimento pela suposição de que outro profissional já o tenha providenciado ( SILVA, 1986 ).

Consideradas as finalidades da reabilitação, a equipe de profissionais; chamada a partir de agora de equipe multiprofissional , jamais poderá tornar-se um mero aglomerado de detentores de habilidades especiais e não relacionadas entre si, uma vez que terá significado e valor quando conseguir funcionar como uma unidade. A equipe multiprofissional de reabilitação no seu sentido mais global é também mais ampla do que uma  equipe médica ou do que uma equipe destinada à “ reabilitação hospitalar “ que é necessariamente limitada em suas possibilidades de bem lidar com as necessidades globais do ser humano.

Segundo Silva ( 1986 ), encontra-se em nossa realidade centros de reabilitação que trabalham muito mais como ambulatório médico para males ortopédicos do que como centro destinado à reabilitação do indivíduo. Há clínicas de fisioterapia que se intitulam centros de reabilitação. A própria palavra “ reabilitação “ tem sido utilizada indiscriminadamente pelos próprios profissionais que nela atuam, patenteando um desconhecimento real do assunto. Aberrações dessa natureza ocorrem à nossa volta com certa insistência, causando à reabilitação muito mais mal do que bem. Em centros de reabilitação de caráter geral, encontra-se, via de regra, todos os profissionais e serviços usualmente requeridos. Na verdade, há vários serviços que são óbvios em termos de utilidade prática imediata, enquanto que outros ainda permanecem como grandes dúvidas e são tolerados principalmente devido ao fato de que sem eles a entidade passaria a ser mal conceituada ou, então, teria seus convênios com organizações financiadoras cancelados. Essa seria uma das poucas razões pra manterem seu lugar ao sol.

Ainda segundo este mesmo autor, ao analisar um pouco o passado de certos serviços que cuidavam de pessoas com deficiências físicas, a ociosidade era o que mais preocupava os voluntários e profissionais de então. Importou-se a idéia de certa ocupação por atividades de trabalho- a então chamada laborterapia. Diga-se de passagem que muita gente que procura atuar nesse campo sem qualquer tipo de curso, ainda batiza a atividade de laborterapia, ignorando por completo o que sucedeu de avanço técnico na reabilitação desde 1956 no Brasil. Sabe-se muito bem que na atualidade temos profissionais  formados e que a terapia ocupacional integra sempre os centros de reabilitação. Ela não só faz o específico, mas também colabora significativamente na avaliação dos clientes para atividades de trabalho. Infelizmente, nota-se também; que a terapia ocupacional serve mais para ser mostrada a visitantes do que a  propósitos realmente terapêuticos ( SILVA, 1986 ).

A profissão do fisioterapeuta evoluiu de métodos muito mal definidos de massagem, aplicação de calor, aplicação de água e da eletricidade e outros recursos, para uma gama de atividades que é de responsabilidade de profissionais devidamente formados. No entanto, verifica-se que alguns fisioterapeutas tem servido mais aos propósitos de alguns médicos que desejam fazer fisiatria, pois assim como certos médicos recorrem à enfermagem para curativos, injeções e serviços menos elevados, recorrem à fisioterapia para o desenvolvimento prático da programação de exercícios que não se preocupam nem em aprender nem em executar. É necessário que a classe médica reconheça a necessidade da atuação do fisioterapeuta em reabilitação, pois traz evidentes benefícios aos clientes que recorrem aos seus centros. Assim sendo, embora vivendo hoje em dia como uma profissão auxiliar da medicina  e sendo mal interpretada, ela tem um papel certo e valioso e não sofre muitas pressões por parte de diretores de centros de reabilitação.

No campo da Psicologia, encontramos profissionais com situações menos graves. A psicologia tem, em seu socorro, certos tipos de estudos que não menos óbvios, tem seus testes e o conhecimento técnico indispensável para sua interpretação. Assim sendo, o máximo que às vezes sucede é o médico tentar questionar o papel do psicólogo como válido, chegando mesmo a indicar sua dispensabilidade. Reduzindo-se despesa considerada inútil, obtém-se com facilidade aval de diretores de organização. Assim, seja por pressão de outros profissionais, seja por falta de objetivo prático no programa, encontramos vários centros que não contam nem pretendem possuir em seu quadro de funcionários, a figura do psicólogo. No entanto, vale aqui lembrar que o psicólogo tem um papel relevante em reabilitação, cabendo também aos seus profissionais lutar por uma boa definição de sua atribuição ( SILVA, 1986 ).

Quando pensamos que a reabilitação, como processo, deve ajudar o cliente a escolher metas práticas e viáveis, nas quais haja oportunidade para a independência, satisfação pessoal, contribuição social e outras, oferecendo uma bateria de serviços multidisciplinares que restauram, preservam e desenvolvem a capacidade física, psicológica, social e profissional para enfrentar a realidade da vida, verifica-se que muita coisa anda bem fora dos parâmetros corretos e que algo de muito sério precisa começar a ser feito ( SILVA, 1986 ).

Resta então, saber o que é necessário para que os centros de reabilitação sejam melhorados e estejam próximo do objetivo máximo de inserir a pessoa portadora de necessidade especial a vida em sociedade de forma mais digna e  humana.  De acordo com Silva ( 1986 ), o caminho para atitudes mais adequadas é bastante árduo e repleto de problemas. E, como todo caminho, ele tem um início. E precisa se dar seguimento a este. Estabelecer sistemas de avaliação. Avaliar um centro de reabilitação não é e nem pode ser o mesmo que avaliar outro tipo de instituição social ou entidade de assistência médica. O centro de reabilitação é entidade de importância primordial no atendimento a pessoas portadoras de necessidades especiais.

O objetivo básico da avaliação é fornecer dados e informações que ajudem o centro de reabilitação no processo de tomada de decisão. Com isso, a avaliação colabora definitivamente na melhoria dos serviços, na maior rentabilidade dos investimentos financeiros feitos, no melhor aproveitamento e aprimoramento de seu pessoal técnico e administrativo e na mais adequada alocação de recursos destinados ao seu desenvolvimento.

Os objetivos da terapia nem sempre são alcançados em um local e momento específicos, na presença de uma terapeuta profissional. A introdução de pais e professores aos princípios e aplicações da análise comportamental aplicada acrescentará apoio e consistência aos esforços do terapeuta. Com presente ênfase à educação da criança portadora de necessidades especiais junto à outras crianças, é necessário que os professores aperfeiçoem sua habilidade de controlar o comportamento na sala de aula ( BUSCAGLIA, 2006 ). Ainda, segundo o mesmo autor, o objetivo final de terapeutas, pais e professores  é o de prover o indivíduo deficiente com as habilidades necessárias a promover mudanças em seu próprio comportamento. Muitos indivíduos portadores de necessidades especiais, em particular adolescentes e adultos, possuem a capacidade de compreender e aplicar as premissas e técnicas comportamentais básicas. Posto que os princípios da análise comportamental aplicada são de inegável eficácia, é lógico que sejam compartilhados em lugar de apenas aplicados aos indivíduos portadores de necessidades especiais que possam se beneficiar de tais conhecimentos e habilidades. Assim, essas pessoas poderão também independentemente instigar mudanças positivas no seu próprio comportamento e no de outras pessoas.

O movimento mundial pela inclusão, como uma ação política, cultural, social e pedagógica, desencadeou a defesa do direito de todos os alunos pertencerem a uma mesma escola, de estarem juntos aprendendo e participando sem nenhum tipo de discriminação. A educação inclusiva constitui um paradigma educacional fundamentado na concepção de direitos humanos , que conjuga igualdade e diferença como valores indissociáveis ( MEC; 2007 )

A visão de direitos humanos avança em relação à idéia de equidade formal expressa no princípio de igualdade de oportunidades, passando a contextualizar as circunstâncias históricas da produção da exclusão dentro e fora da escola, reconhecendo que as dificuldades enfrentadas nos sistemas de ensino nas esferas federal, estadual e municipal evidenciam a necessidade  confrontar as práticas discriminatórias e criar alternativas para superá-las ( MEC;  2007 ).

No Brasil, a educação inclusiva assume espaço central no debate acerca da sociedade contemporânea e do papel da escola na superação da lógica da exclusão. À luz dos referenciais para a construção de sistemas educacionais inclusivos , a organização de escolas e classes especiais passa a ser repensada, implicando uma mudança estrutural e cultural da escola comum para que todos os alunos, atenda suas especificidades e promova a melhoria da qualidade da educação, configurando-se em resposta às diferentes situações que levam à exclusão escolar e social.

Nesta perspectiva, o Ministério da Educação / Secretaria de Educação Especial apresenta documento chamado de Política Nacional de Educação Especial na  Perspectiva da Educação Inclusiva que considera a evolução dos marcos filosóficos, políticos, legais e da pedagogia, definindo diretrizes para os sistemas de ensino. Essas diretrizes devem se traduzir em políticas educacionais que produzam o deslocamento de ações e incidam nos diferentes níveis de ensino, acompanhando os avanços do conhecimento e das lutas sociais, constituindo políticas promotoras do amplo acesso à escolarização ( MEC; 2007 ).

A educação das pessoas com deficiência se organizou ao longo da história como atendimento especializado substitutivo ao ensino comum, evidenciando diferentes compreensões, terminologias e modalidades que levaram a criação das instituições especializadas, escolas especiais e classes especiais. Essa organização mostra a educação especial, de caráter caritativo, fundamentada no conceito de normalidade/anormalidade, que determinava formas de atendimento clínico terapêutico fortemente ancorado nos testes psicométricos, e definidas por meio dos diagnósticos , as práticas escolares para os alunos com deficiência.

No Brasil, o atendimento as pessoas com deficiência teve início à época do Império com a criação de duas instituições : o Imperial Instituto dos Meninos cegos em 1854, atual Instituto Benjamin Constant- IBC e o Instituto dos Surdos Mudos em 1857, atual Instituto Nacional da Educação dos Surdos- INES, ambos no Rio de Janeiro. No início do século XX é criado o Instituto Pestalozzi- 1926, instituição particular especializada no atendimento às pessoas com deficiência mental; em 1954 é fundada a primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais- APAE.

As ações voltadas ao atendimento educacional de pessoas com deficiência fundamentavam-se nas disposições da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 4.024/61, que apontava o direito dos “ excepcionais “ à educação , preferencialmente dentro do sistema geral de ensino. Em 1970 foi criado no MEC, o Centro Nacional de Educação Especial- CENESP, responsável pela gerência da educação especial no Brasil, que sob a égide do discurso integracionalista, impulsionou ações educacionais voltadas às pessoas com deficiência e às pessoas com superdotação.

As iniciativas de atendimento às pessoas com deficiência marcadas por uma concepção assistencionalista não efetivaram políticas públicas de acesso universal à educação e promoção da autonomia e independência. As chamadas políticas especiais constituíram uma hierarquia de pertencimento, onde alunos com deficiência eram pensados como meros receptores de ações isoladas do Estado.

A Lei de Diretrizes e Bases para o ensino de 1º e 2º graus, nº 5.692/71, ao referir-se a “ tratamento especial “ para os alunos com “ deficiência físicas, mentais, os que se encontrem em atraso considerável quanto a idade de matrícula e os superdotados”, reforçou a organização da Educação Especial que forma paralela à educação comum, gerando o entendimento de que alunos “ atrasados “ em relação a idade/série eram deficientes mentais treináveis.

A Constituição Federal, 1988, é fundamentada na promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer  outras formas de discriminação, define, em seu artigo 205, a educação como um direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. Estabelece, ainda, no artigo 206, como um dos princípios para o ensino, a igualdade de condições de acesso e permanência na escola. No artigo 208, garante como dever do Estado, o acesso aos níveis mais elevados do ensino, bem como a oferta do atendimento educacional especializado.

O Estatuto da Criança e do Adolescente- Lei nº 8069/90, reforça os dispositivos legais, ao determinar que “ os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino “ ( ECA,2001,Art. 55).  Nessa década, documentos internacionais como a Declaração de Educação para Todos    ( 1990 ) e a Declaração de Salamanca ( 1994 ), passam a influenciar a formulação das políticas públicas da educação brasileira.

Em 1994 é publicada a Política Nacional de Educação Especial, que orientou o processo de integração instrucional e condicionou o acesso às classes comuns do ensino regular àqueles que “(...) possuem condições de acompanhar e desenvolver as atividades curriculares programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais”   ( MEC/SEESP,1994 ).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96 define no artigo 58, a educação especial como modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino para os educandos com necessidades especiais. No seu artigo 59, preconiza que os sistemas de ensino deverão assegurar aos alunos “ currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específica para atender às suas necessidades” e a aceleração de estudos para que alunos superdotados possam concluir em menor tempo o programa escolar , oferecida preferencialmente na rede regular de ensino para os educandos com necessidades especiais. No seu artigo 59, preconiza que os sistemas de ensino deverão assegurar aos alunos “ currículos , métodos, técnicas, recursos educativos e organização específica para atender às suas necessidades “ e a aceleração de estudos para que os alunos superdotados possam concluir em menor tempo o programa escolar. Nesse sentido, o artigo 24, deixa claro a “ possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado “, como uma tarefa da escola.

Em 1999, o Decreto 3.298 regulamenta a Lei n º 7.853/89, ao dispor sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, define a educação especial como modalidade transversal aos níveis e modalidades de ensino e, contraditoriamente, no seu artigo nº 24, condiciona a matrícula compulsória na rede regular de ensino às pessoas com deficiência  consideradas “ capazes de se integrar “.

Diante das mudanças, as Diretrizes Nacionais  para a Educação Especial na Educação Básica, Resolução CNE/CEB nº 2/2001, determinam no art. 2º que :

Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas   a responsabilidade de organizar-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos  ( MEC/SEESP, 2001 ).

O Plano Nacional de Educação ( PNE ), Lei nº 10.172/2001, delega funções no âmbito da União, Estados , Distrito Federal e Municípios estabelecendo objetivos e metas para que os sistemas de ensino favoreçam o atendimento às necessidades especiais dos alunos. No seu diagnóstico, aponta um déficit nos sistemas de ensino em relação à política de educação especial, referente à oferta de matrículas para alunos com deficiência nas classes comuns do ensino  regular, à formação docente ; às instalações físicas e ao atendimento especializado. O PNE destaca que “ o grande avanço que a década da educação deveria produzir seria a construção de uma escola inclusiva que garanta o atendimento à diversidade humana “. Entretanto, a análise das metas estabelecidas para a educação especial denotam contradições ainda vigentes no sistema escolar ao enfatizar o incremento das classes especiais e o modelo da integração( PNE,2001 ).

A Convenção da Guatemala ( 1999 ), promulgada no Brasil pelo Decreto nº 3.956/2001, reafirma que as pessoas com deficiência tem os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que as demais pessoas.

Esse Decreto tem importantes repercussões na educação, exigindo uma reinterpretação da educação especial, compreendida no contexto da diferenciação adotada para promover a eliminação das barreiras que impedem o acesso à escolarização. Dessa forma, não se pode impedir ou anular o direito à escolarização nas turmas comuns do ensino regular, pois estaria configurando discriminação com base na deficiência.

Na perspectiva da educação inclusiva, a Resolução CNE/CP nº 1/2002 que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, definem que as instituições de ensino superior devem prever em sua organização curricular, formação voltada para o acolhimento e o trato da diversidade; que contemple conhecimentos sobre as especificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais ( MEC/SEESP ).

A Lei nº 10.436/02 reconhece a Língua Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação e expressão determinando que sejam garantidas formas institucionais de apoiar seu uso e difusão, bem como a inclusão da disciplina de Libras nos cursos de Libras nos cursos de formação de professores e parte integrante do currículo.

Em 2004, com base no Decreto nº 3.956/2001, o Ministério Público Federal publica o documento O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede Regular, com o objetivo de divulgar os conceitos e diretrizes mundiais da inclusão das pessoas com deficiência na área educacional, reafirmando o direito e os benefícios da escolarização de alunos com e sem deficiência nas turmas comuns do ensino regular.

O Decreto nº 5.296/04 que regulamenta as leis nº 10.048/00 e nº 10.098/00 estabeleceu condições para a implementação de suma política nacional de acessibilidade , trazendo conseqüências práticas que induzem a uma mudança de postura na sociedade para a garantia da acessibilidade as pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida.

O Decreto nº 5.626/05 regulamenta a Lei nº 10.436/2002 e dispões sobre a inclusão da Libras como disciplina curricular, a formação do professor, instrutor e tradutor/intérprete de Libras, a certificação da proficiência em Libras, o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua para alunos surdos e a inclusão de alunos surdos com a organização da educação bilíngüe nos sistemas de ensino.

Em 2006, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, o Ministério da Educação , o Ministério da Justiça e a UNESCO lançam o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos inserindo o Brasil na Década da Educação em Direitos Humanos prevista no Programa Mundial de Educação em Direitos Humanos. O Plano define ações para fomentar no currículo da educação básica as temáticas às pessoas com deficiência e para desenvolver ações afirmativas que possibilitem inclusão, acesso e permanência na educação superior.

No contexto do Plano de Aceleração do Crescimento, o Plano de Desenvolvimento da Educação- PDE, enfatiza o desenvolvimento humano e social e a educação como prioridade e no Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, Decreto nº 6.094/2007; estabelecem diretrizes para garantia do acesso e permanência no ensino regular e atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos, fortalecendo a inclusão educacional nas escolas públicas.

Pode-se concluir a respeito de Educação Inclusiva, que esta constitui uma proposta educacional que reconhece e garante o direito de todos os alunos de compartilhar um mesmo espaço escolar, sem discriminações de qualquer natureza. Promove a igualdade e valoriza as diferenças nas organizações de um currículo que favoreça a aprendizagem de todos os alunos e que estimule transformações pedagógicas das escolas , visando à atualização de suas práticas como meio de atender às necessidades dos alunos durante o percurso educacional. Torna-se uma inovação educacional, ao romper com paradigmas que sustentam a maneira excludente de ensinar e ao propor a emancipação , como ponto de partida de todo processo educacional. 

As pessoas que requerem cuidados especiais são geralmente representadas por entidades de e para portadores de deficiência. As primeiras são criadas pelos próprios portadores de deficiência. As atividades das entidades de portadores de deficiência promovem campanhas educativas, formulam medidas legislativas, acompanham decisões judiciais. As entidades para portadores de deficiência procuram promover a recuperação física, funcional e social; qualificando e reabilitando os portadores de deficiência. O trabalho das entidades de e para portadores de deficiência está se articulando, cada vez mais, com os técnicos e profissionais da área e, muitas vezes, com pessoas no mundo acadêmico, e com o desenvolvimento das tecnologias e dos equipamentos especializados, a evolução dos direitos civis e as oportunidades de relacionamento social entre os portadores de deficiência no mundo inteiro ( PASTORES,2000 apud OLIVEIRA et al, 2006 ).

Segundo o Pastore ( 2000 ), as organizações brasileiras de deficiência que se dedicam ao trabalho de reabilitação e promoção também são numerosas, têm especial destaque a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais ( APAE ), fundada nos anos quarenta e articulada, atualmente, com a Federação Nacional das APAES. Outro exemplo é a Assistência à Criança Defeituosa ( AACD ), que nos dias atuais, mantém uma rede de unidades que representam serviços em vários estados do Brasil. Essas organizações vêm despertando o interesse de vários outros grupos, desde médicos, sociólogos e advogados, até sindicalistas, jornalistas e políticos. Em alguns casos, a influência desses grupos acaba sendo dominante. Por isso, não é raro ver algumas organizações desenvolvendo campanhas em busca de objetivos diferentes dos interesses de sua clientela. Por exemplo, os políticos, por terem força decisória nos pleitos dos portadores de deficiência junto às casas legislativas, costumam envolver essas organizações de movimentos sociais que se transformaram em respaldo de campanhas eleitorais de interesse nitidamente partidário.

De acordo com Carvalho-Freitas ( 2009 ), os estudos sobre a gestão da diversidade , com foco específico nas pessoas com deficiência , têm indicado três dificuldades para gerir o trabalho dessas pessoas: as formas como os gestores vêem a deficiência, a adequação das condições e práticas de trabalho por parte das empresas e a necessidade de avaliar a satisfação das pessoas com deficiência inseridas no mercado.

Segundo a autora, várias pesquisas analisam as dificuldades das pessoas com deficiência para se inserirem no mercado de trabalho têm concluído que existe falta acentuada de conhecimento em relação à capacidade de trabalho dessas pessoas e desconhecimento do que seja a deficiência. Além disso, pesquisas indicam a falta de preparo do mundo industrial para absorver as pessoas com deficiência , devido às adaptações em postos de trabalho que precisariam ser feitas nas organizações ( SILVA, 1993 apud CARVALHO-FREITAS, 2009 ); à maior chance de se contratar pessoas com deficiência , por parte de grandes empresas que tenham profissionais de Recursos Humanos e à segregação das pessoas com deficiência em setores específicos das organizações ( BATISTA, 2004 apud CARVALHO-FREITAS, 2009 ).

Por outro lado, de acordo com Carvalho-Freitas ( 2009 ), estudos demonstram que o trabalho associado a um emprego desempenha papel importante entre grupos historicamente marginalizados, contribuindo para a diminuição de taxas de pobreza, do isolamento social e para o aumento da participação política desses grupos ( SCHUR, 2002 apud CARVALHO-FREITAS, 2009 ). Ademais, contribui para melhorar a percepção que as pessoas com deficiência têm de si mesmas. No entanto, é necessário verificar entre as pessoas com deficiência inseridas no mercado de trabalho, as formas como elas estão percebendo suas condições de trabalho.

Em análise mais ampla, um jovem ao pensar seu futuro profissional confronta-se com várias incertezas, expectativas, sonhos, motivações, ansiedades e com expectativas de sua família e amigos. Da mesma forma, ocorrerá com um jovem deficiente, mas com uma preocupação bem maior:  grande importância a  questão social, no que se refere a inclusão e integração.

O mesmo autor ainda afirma que a integração é uma idéia chave para qualquer reflexão sobre a questão da deficiência, pois integrar significa oferecer oportunidades iguais de acesso para os mundos físico, das relações sociais, escolares, trabalho, cultura e lazer.

No que refere à visão sobre histórica sobre os portadores de necessidades especiais, Carvalho-Freitas ( 2009 ); propõe quatro matrizes de interpretação da deficiência:

• A deficiência vista como fenômeno espiritual; onde as pessoas que percebem a deficiência nessa perspectiva atribuem uma origem metafísica à deficiência e tendem considerá-la uma manifestação de desejos ou castigos divinos. A pessoa com deficiência, nesta matriz, é considerada como alguém que precisa ser mantida e cuidada, contribuindo para o surgimento do sentimento de caridade e compaixão em relação a si mesmas;

• A normalidade como matriz de interpretação, onde as pessoas que compartilham dessa concepção têm na norma seu padrão de avaliação, sendo a deficiência considerada um desvio ou doença que necessita de cuidados especiais dos profissionais da saúde. Para as pessoas que possuem esta visão da deficiência, a possibilidade de inserção das pessoas com deficiência se dá mediante a reabilitação e a adequação delas ao sistema social. Geralmente as pessoas que compartilham dessa visão consideram que as pessoas com deficiência assumem atitudes inadequadas no trabalho, provocando situações embaraçosas; são mais propensas a acidentes, têm problemas de relacionamento e devem ser lotadas em setores específicos da empresa. Além disso, consideram as instituições especializadas mais adequadas ao trabalho das pessoas com deficiência.

• A inclusão como matriz de interpretação, onde as pessoas que compartilham dessa visão deslocam sua percepção da deficiência de um problema individual para um problema social. O pressuposto compartilhado pelas pessoas que possuem essa visão de deficiência, é de que a sociedade tem de se adaptar para incluir todos, e a inclusão das pessoas com deficiência deve ser feita a partir de suas potencialidades;

• A matriz de interpretação técnica da deficiência, onde as pessoas que compartilham dessa visão vêem a diversidade como recurso a ser gerido nas organizações e que consideram as práticas sociais e organizacionais como veículos para a participação e inclusão das pessoas com deficiência. Essa matriz se traduz em quatro fatores, que segundo Carvalho-Freitas ( 2007 ), avaliam as possibilidades de trabalho das pessoas com deficiência : percepção de desempenho, onde identifica a percepção das pessoas com relação ao desempenho, produtividade e qualidade de trabalho das pessoas com deficiência e suas implicações para a competitividade da empresa; percepção do vínculo, onde focaliza a percepção das pessoas em relação ao comprometimento e estabilidade no emprego das pessoas com deficiência; percepção dos benefícios da contratação, onde identifica a percepção do impacto da contratação de pessoas com deficiência para a imagem da empresa junto a funcionários e clientes e também para o clima da organização; percepção sobre a necessidade de treinamentos, onde indica a percepção quanto à necessidade de treinamento das chefias e funcionários para a inserção de pessoas com deficiência na empresa.

De forma geral, a utilização do construto de concepções de deficiência como ferramenta de pesquisa em seu trabalho “ Inserção e Gestão do Trabalho de Pessoas com Deficiência: um Estudo de Caso( 2009 ) “, possibilitou a autora Carvalho-Freitas contribuir para uma compreensão mais sistematizada da gestão do trabalho de pessoas com deficiência em uma empresa específica; e de certa forma, contribuiu para ilustrar esse trabalho e demonstrar que há possibilidades de se instrumentalizar a realização da inserção do portador de necessidades especiais no mercado de trabalho.

Esse capítulo, preocupou-se em evidenciar a preocupação social quanto à questões referentes à Educação Inclusiva de crianças e jovens com deficiência e a inserção do portador de necessidades especiais ao mercado de trabalho.

De acordo com Herculano apud Oliveira ( 2006 ), a responsabilidade social dos gestores e suas empresas devem obrigatoriamente ultrapassar a simples geração de empregos, ou geração de ganhos financeiros através de benefícios fiscais ao implementar ações, como a contratação de pessoas portadoras de deficiência, esta ação, deve ser voltada em detrimento da dignidade humana e modificação real da postura de nossa sociedade. A partir do momento que as organizações colocam em prática a responsabilidade social, estarão contribuindo significativamente com a inclusão das pessoas portadoras de deficiência no mercado. Assim, as empresas necessitam de flexibilidade para adaptar-se às exigências do mercado altamente competitivas e que exige qualidade, ética e responsabilidade social.

CAPÍTULO III - EDUCAÇÃO E TRABALHO.

Segundo Omote ( 2005 ), a educação de crianças e jovens com deficiência vem sofrendo profundas mudanças nas últimas décadas. Procedimentos muito empregados durante um período de tempo acabaram contestados e abandonados ou transformados. Essas mudanças vêm ocorrendo no sentido de ampliar progressivamente as alternativas educativas e terapêuticas como também as oportunidades de participação nas diferentes atividades da sociedade. Na última década do século passado, houve um avanço expressivo nessa caminhada, com o paradigma de inclusão, que supõe uma profunda transformação da escola, e o maior deles diz respeito, em especial, à alteração no foco de atenção, pois, ao passar o olhar também para o meio e não apenas para a pessoa considerada como deficiente, novas questões se apresentam e possibilidades se avistam.

Segundo o mesmo autor, a transformação da escola implica em mudanças de vários aspectos, como edificação, mobiliário, recursos didático-pedagógicos, acervo de laboratórios e bibliotecas, currículo e principalmente a mentalidade de toda uma comunidade escolar e das famílias de alunos. O meio social representado por diferentes segmentos se constitui em um dos fatores mais decisivos para a construção da educação inclusiva.

De toda a comunidade escolar, as professores são um segmento particularmente importante na promoção do ensino inclusivo. De um modo geral, eles não receberam formação especializada para lidar nessa nova situação, de aluno deficiente nas suas salas de aula, e ela não seria apenas a capacitação para a compreensão das características e necessidades do aluno deficiente e a utilização de ampla variedade de recursos, mas teria também que ser construída uma nova visão de ensino e de aprendizagem, fundada em atitudes genuinamente favoráveis à inclusão  ( OMOTE, 2005 ). 

A inserção de algum aluno deficiente em uma classe comum, se determinada apenas administrativamente, não assegura que ele será bem acolhido pelo professor e colegas de classe, nem lhe garante ensino de qualidade mediante adequado atendimento a suas particularidades e necessidades especiais. Muitas das decisões a serem tomadas, das medidas adotadas para a acolhida positiva e a provisão do imprescindível  suporte ao aluno especial, visando o convívio produtivo a toda a classe, podem depender da correta compreensão da proposta da educação inclusiva e das atitudes sociais genuinamente favoráveis à inclusão por parte do professor, uma das variáveis mais importantes para o sucesso dela, segundo Hastings e Oakford ( 2003 ) apud Omote ( 2005 ). Assim, é dado ênfase à questão de que as práticas sociais podem fracassar, caso professores do ensino comum não tiverem atitudes sociais positivas em relação a essas práticas ( SHADE & STWART, 2001 apud OMOTE,2005 ). A decisão de incluir ou não alunos portadores de necessidades especiais depende da vontade dos professores de aceitar e apoiar esses estudantes ( LANIER e LANIER, 1996  apud  OMOTE, 2005 ).

Segundo Omote ( 2005 ), como parte da preocupação em implementar a educação inclusiva, as atitudes sociais dos professores em relação à inclusão vêm sendo investigada nos últimos anos. Itens como gênero, idade cronológica, o tempo de experiência docente no ensino comum, o nível de escolaridade e a experiência no ensino de aluno deficiente são algumas das variáveis, que podem estar criticamente relacionadas às suas atitudes sociais em relação à inclusão; embora seus efeitos específicos não estejam cabalmente esclarecidos.

Ainda, o mesmo autor, relata que atitudes sociais positivas em relação à inclusão são apresentadas por professores do gênero feminino, mais jovens, com menos tempo de experiência docente no ensino comum, com nível baixo de escolaridade e com experiência no ensino de alunos deficientes.

Segundo Omote ( 2005 ), após sua revisão de pesquisas realizados no período de 1958 a 1995, acerca da integração ou inclusão, concluiu-se que apoio a inclusão parece depender tanto da severidade da deficiência, quanto do grau de inclusão pretendida. Talvez por isso, nas séries iniciais da escolaridade , ela seja mais aceita pelos professores do que nas avançadas.
É claro, que além da compreensão das características e necessidades especiais de alunos deficientes e do treinamento para a utilização de estratégias de ensino inclusivas, a capacitação de professores para o ensino inclusivo requer o desenvolvimento  de atitudes sociais genuinamente favoráveis a ele (OMOTE, 2005 ).

Ainda, de acordo com mesmo autor, a literatura especializada da área traz descrição de ampla diversidade de procedimentos e técnicas para mudança de atitudes sociais, muitas delas baseadas  na criação de condições que, mediante a manipulação de componentes cognitivos, afetivos ou comportamentais, levam as pessoas a vivenciarem informações ou fatos que contrariam suas crenças e sentimentos em relação ao objeto atitudinal, apresentando-o de modo mais positivo.

Cursos breves sobre as características e necessidades de alunos com deficiência ou a introdução desses tópicos em algumas disciplinas de cursos de formação  têm sido empregados com o propósito de capacitar os futuros professores ou já formados para o ensino inclusivo.

Shade e Stewart ( 2001 ) apud Omote ( 2005 ), avaliaram atitudes sociais de 122 futuros professores do ensino comum, matriculados em uma disciplina de 30 horas, chamada Pesquisa em Educação Especial, e os 72 futuros professores de educação especial, matriculados na disciplina Introdução e Educação Especial, também com 30 horas – aula e concluíram que as atitudes sociais desses futuros professores em relação à inclusão puderam ser modificadas favoravelmente. Essas disciplinas foram desenvolvidas por meio de breves aulas expositivas, apresentações audiovisuais , discussões em pequenos grupos, dramatizações, atividades e simulações de construção de atitudes favoráveis.

De acordo com Omote ( 2005 ); Cook ( 2002 ), avaliou os efeitos da introdução de tópicos sobre características e necessidades especiais de alunos deficientes, em algumas disciplinas específicas de um curso de formação de professores do ensino comum , e concluiu que não houve melhora nas atitudes em relação à inclusão, no decorrer do curso. O autor levantou a possibilidade de a ausência de efeitos positivos desses conteúdos ser devida à falta de experiência e treinamento em educação especial por parte dos docentes que ministraram as disciplinas, e também a falta de experiência de campo em classes inclusivas, além do pouco tempo gasto para tratar de questões nessas disciplinas.

Contatos entre as pessoas “ comuns “ e as estigmatizadas, que visam mudança de atitudes sociais daquelas em relação a estas, podem ser convenientemente  administrados tanto para que o impacto negativo seja o menor possível quanto para favorecer a obtenção de impressões e informações favoráveis acerca das pessoas estigmatizadas ( OMOTE, 2005 ).

Ainda, segundo o autor, é evidente que o professor de classe inclusiva, com atitudes genuinamente favoráveis, tem papel de suma importância para que essa oportunidade de contato e convívio possa ser produtivamente aproveitada por todos que dela participam.

Em estudo realizado pelo autor com 56 alunos do CEFAM ( Centro  Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério- SP ), sendo 54 do sexo feminino e apenas 2 do sexo masculino ( OMOTE, 2005 ); procurou verificar a possibilidade de modificar, por meio de atividades organizadas na forma de um curso breve, as atitudes sociais de estudantes do CEFAM; futuros professores das séries do Ensino Fundamental, em relação à inclusão social. Os resultados desta estudo sugeriram a possibilidade das atitudes serem modificadas por meio de uma intervenção relativamente breve, que consistiu de um curso de 14 horas de duração , carga horária de 2 semanas, durante as quais foram transmitidas informações e desenvolvidas atividades que propiciaram reflexão e discussão sobre a inclusão. Em seu estudo, Omote ( 2005 ), demonstra que o curso produziu efeitos visíveis sobre as atitudes sociais em relação a inclusão, por tratar exclusivamente de assuntos relativos à diversidade, diferenças e inclusão de pessoas com necessidades especiais, e diferentes atividades, planejadas com base em técnicas de modificação de atitudes sociais. Os participantes demonstraram , no decorrer do curso, muito interesse pelos assuntos tratados e envolvidas. Esse interesse e envolvimento são importantíssimos para que haja uma mudança nas atitudes sociais.

Concluindo, os professores necessitam de suporte de várias ordens para desenvolver atividades adequadas em salas de aula inclusivas, tais como : materiais instrucionais apropriados e apoio de pessoal especializado; uma política claramente estabelecida e compromisso dos gestores para lidar com situações especiais que requeiram medidas particulares como treinamento e supervisão continua, ampliação do tempo para planejamento de atividades ou redução no tamanho da classe; necessitam do suporte e auxílio de todo o ambiente escolar para ousar e poder experimentar, com ética  e responsabilidade, práticas pedagógicas inovadoras em busca de experiências educacionais capazes de promover a inclusão educacional ; é preciso consolidar uma prática social que encoraje toda a d escolar, incluindo os alunos e suas famílias, a rever suas velhas crenças e comportamentos em relação a alunos e professores, ao ensino e aprendizagem , às funções da escola e a outras questões da vida escolar comunitária ( OMOTE, 2005 ).

É necessário, indubitavelmente, construir uma cultura inclusiva no âmago das nossas escolas e comunidades em geral.

A inserção da pessoa portadora de necessidades especiais no contexto do mercado de trabalho é um tema que vem fazendo  parte das discussões na esfera da Educação Especial há tempos, porém a preocupação com esta questão começou a ser estender para o âmbito empresarial somente a partir da aprovação de leis específicas que procuram assegurar esse direito.

No Brasil, a legislação sobre acesso de PNE’s ao mercado de trabalho entrou em vigor há mais de 20 anos, como exemplo, tem-se a Lei nº 8.112/90, que define até 20% o percentual de vagas em concursos públicos, e nº 8.213/91, que determina cota  de vagas para a pessoa portadora de necessidades especiais; variando de 2 a 5%, junto às empresas privadas com mais de 100 funcionários. E , ainda assim, nota-se que a oportunidade para este grupo específico , que o acesso ao mercado de trabalho, caminha em passos lentos e a inserção é impulsionada apenas com a fiscalização mais rigorosa pelo Ministério Público do Trabalho- MPT, mediante punições às empresas que não vêm cumprindo as leis ( MANZINI  & TANAKA, 2005 ).

De acordo com mesmos autores, dados de levantamento realizado por 21 Procuradorias Regionais do Trabalho, entre os anos de 2000 e 2002, sobre ações em relação à inserção de pessoas com deficiência no trabalho, mostraram que o Ministério Público do Trabalho instaurou 2591 processos investigatórios, e conseguiu formar 1495 termos de compromisso de ajustamento e ingressou com 99 ações civis públicas junto a empresas que não estavam cumprindo com a lei de cotas. Dessas, o estado de São Paulo, foi o que mais instaurou processos investigatórios.

Segundo a comentarias Andréa Giardino,de acordo com Manzini e Tanaka      ( 2005 ), em matéria vinculada pela Rede Saci, no dia 29/08/2005, os dados do MPT em São Paulo, mostraram que , no ano de 2003 apenas 316 empresas atendiam à exigência da legislação. Em 2004, esse número elevou-se para 1965, e no primeiro semestre de 2005, chegou a 2110, representando um crescimento de 7,4%  no emprego de pessoas com deficiência.

Nota-se que com a exigência imposta pela lei começou a haver uma oferta crescente de vagas para pessoas portadoras de necessidades especiais nas empresas, principalmente por intermédio da mídia, despertando a ilusória idéia de que finalmente , o mercado de trabalho encontra-se receptivo a essa população.

Apesar dessas leis terem funcionado como uma válvula impulsionadora para o oferecimento de vagas nas empresas, o número de PNE que ora está participando do mercado de trabalho, ao contrário, ainda está muito distante do que ela prevê. De acordo com NÉRI ( 2003 ) apud Manzini e Tanaka ( 2005 ), a Relação Anual de Informações – RAIS; dos 26 milhões de trabalhadores formais ativos apenas cerca de 537 mil eram de pessoas portadoras de necessidades especiais; e representam apenas 2,05 % desse total.

Em um país de estrutura econômica instável, com um quadro gritante de desemprego, a competitividade para conseguir um espaço no mercado de trabalho é imensa. Além disso, a falta de informações sobre a deficiência , associada à possível  crença de que seu portador não irá corresponder a carga de trabalho imposta no mercado de trabalho , pode , por fim, gerar antagonismos quanto à absorção dessa mão-de-obra pelas empresas .

Para Ferreira ( 1998 ) apud Manzini e Tanaka ( 2005 ), a desinformação poderia produzir desconhecimento sobre as reais incapacidades e limitações do portador de necessidades especiais e, também das suas potencialidades, necessidades, expectativas e sentimentos, o que, de uma certa forma; acabaria em relação a essa população. Em realidade, o preconceito é uma atitude negativa que a sociedade estabelece em direção àquele indivíduo que ela considera imperfeito, resultado das concepções que ela foi construindo ao longo de sua história de vida; por meio das informações distorcidas que ele foi recebendo.

Em estudo realizado por Manzini e Tanaka ( 2005 ), foram coletados dados de seis pessoas responsáveis pelo setor de recursos humanos de empresas escolhidas para fazerem parte . foram seis empresas de uma cidade localizada no norte do Paraná, que empregavam pessoas com deficiência e possuíam mais de 100 funcionários no seu quadro de pessoal. Empresas pertencentes a vários setores : comércio, indústria e prestação de serviços.

Para compreensão da opinião dos participantes, foi utilizado como instrumento de coleta de dados um roteiro para entrevista semi-estruturado, contendo questões que abrangiam a concepção de deficiência, opinião sobre o trabalho e a formação profissional da pessoa portadora de necessidade especial e fatores que pudessem interferir na colocação no mercado de trabalho.

Esse roteiro foi submetido à apreciação por juizes para verificar a sua adequação quanto à linguagem , forma de realização das perguntas, seqüência das perguntas e abrangência do fenômeno estudado.

As empresas que fizeram parte desse estudo foram selecionadas a partir de uma listagem fornecida pela Secretaria do Estado e do Emprego e Relações do Trabalho – SERT, contendo o nome das empresas que possuíam mais de 100 funcionários e estavas situadas na cidade onde ocorreu a coleta de dados. Para isso, as empresas desta listagem foram classificadas em três grupos, e foram enumeradas separadamente, de acordo com a ordem de sorteio . para compor a amostra escolheu-se duas empresas de cada ramo de atividade.

Todas as entrevistas foram realizadas em data e horário previamente agendadas de acordo com a disponibilidade dos entrevistados  e no seu próprio local de trabalho, e tiveram duração média de uma hora. Para que nenhum detalhe fosse perdido, foi solicitada a permissão para gravação e garantindo que os dados a serem divulgados receberiam tratamento de forma a não identifica os informantes e as empresas. 

As informações verbais advindas das entrevistas , foram transcritas na íntegra e submetidas a leituras repetidas para selecionar as unidades de falas que continham informações pertinentes dos propósitos da pesquisa. Em seguida, os conteúdos dessas falas foram analisadas e agrupados em temas e subtemas, que foram avaliados por juizes, com intuito de verificar a compatibilidade com o conteúdo das verbalizações e os objetivos da pesquisa.

Os entrevistados abordaram a questão do trabalho da pessoa com deficiência tendo em vista os temas: 1) concepção em relação a essa população e seu trabalho; 2) razões para sua inserção na empresa; 3) dificuldades de inserção e 4) meios para solucionar problemas .

O presente trabalho atentará neste momento, apenas a última questão ( item 4 ), por se tratar de assunto essencial a este capítulo. Demais temas, foram de certa forma, tratados no decorrer desta pesquisa.

Com relação a soluções apresentadas, Manzini e Tanaka ( 2005 ), informa que apesar dos entrevistados apontares diversos fatores que dificultaram a ocupação de um cargo pelo PNE nas empresas, também surgiram alguns meios que poderiam facilitar o acesso ao trabalho, tais como : a) eliminação de barreiras tanto de natureza arquitetônica quanto de natureza funcional, b) adaptação do ambiente das empresas com colocação de rampas de acesso aos diferentes locais, banheiros adaptados e, se possível, a instalação de elevadores, c) adaptação de recursos pra facilitar acesso às informações do ambiente de trabalho e d) capacitação profissional no mercado de trabalho em igualdade de condições das demais pessoas.

Pode-se notar, entretanto, que há a necessidade primordial de apoio governamental, através de incentivos as empresas com este pensamento e ações de responsabilidade social em prol dos PNE’s. e, mais ainda, investimentos na educação profissional de professores que tenham interesse em tornarem-se especialistas em Educação Inclusiva. A pessoas PNE precisa perceber, vivenciar e compreender que foi alfabetizada e/ou capacitada profissionalmente , não por ser PNE; mas por ser um Ser Humano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para que a sociedade torne-se mais justa e igualitária, faz-se necessário , sobretudo, a promoção da inclusão de pessoas portadoras de necessidades especiais. A Declaração de Salamanca, em 1994, fortaleceu a luta pelo direito de igualdade de participação dessa população nos sistemas educacionais e sociais, independente das diferenças existentes; e sempre é citada por aqueles que de modo geral, lutam em prol à pessoa com deficiência, ou seja, portadora de necessidade especial.

Medicas importantes que sejam capazes de abrangerem todo um contexto social são necessárias e urgentes, pois afinal de contas, falar sobre necessidades especiais é discutir uma realidade que pode ser , ou tornar-se, de qualquer pessoa.

Os indivíduos de uma sociedade precisam compreender que são criaturas gregárias, onde as ações e reações humanas acontecem a todo momento. E, sem ênfase a nenhuma questão religiosa, praticar uma ação social de benefício a própria sociedade, é plantar uma oportunidade de felicidade, colaboração, sociabilidade e humanidade.

Através deste estudo, notou-se que atualmente , o caminho de acesso ao mercado de trabalho tornou-se mais curto, porém o nº de pessoas portadoras de necessidades especiais ainda está aquém do esperado. Esta realidade é justificada pelas várias dificuldades encontradas pelos gestores e pelos próprios PNE’s em relação a si mesmos e a sociedade. A concepção de que esta população merece oportunidades profissionais e sociais é compartilhada por grande parte da população, mas quando mergulha-se na prática, um turbilhão de barreiras são evidenciadas.

Contratar um PNE, apenas com a alegação de cumprimento da lei, sem remover obstáculos existentes no caminho que ele terá que percorrer para buscar um trabalho, acabará o estigma de que ele não possui competência para disputar o mercado competitivo.

Concluindo, a simples prescrição de leis, para assegurar os direitos da pessoa portadora de necessidade especial de ter um trabalho , não mudará a sua realidade se os elementos que dificultam a sua inserção no meio social não forem apontados, discutidos e minimizados por meio de uma ação conjunta entre os indivíduos, a família, a sociedade e o governo.

O tema deste trabalho, deve ser objeto de discussão multidisciplinar , e cabe a vários profissionais darem segmento a esta discussão e novos estudos.

A verdadeira sociedade inclusiva necessita de envolvimento de vários segmentos da sociedade para implementação de práticas não excludentes para a construção de uma cultura genuinamente inclusiva; capaz de  desvencilhar-se de alguns velhos princípios e valores que parecem fazer parte da natureza humana.

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Publicado por: daniel da costa reis

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